quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O Homem é todo igual

O Prof. Dr. Paulo Alberto bem dizia nas suas aulas, a propósito do estudo das tragédias gregas, que nelas se representava toda a condição do ser humano. Que todas as particularidades, reacções, atitudes do Homem se afiguravam ali, mesmo através das cenas mais espectaculares, mais viscerais ou rebuscadas. Acrescentava “Mesmo que um dia nos estejamos a alimentar a comprimidos, seremos sempre assim, enquanto seres humanos”, com todos os condicionalismos inerentes à nossa vida efémera, na qual sentimentos e desejos se vão debatendo, dentro de nós, com o poder racional que nos foi atribuído.

Eu debruçava-me sobre os textos e tentava ler as entrelinhas das estórias da História da Humanidade em forma de arte. Tentava imaginar a música e as danças de figuras mascaradas. Via um Édipo dilacerado pela própria culpa que não escolheu ter. Subjugado à condição humana de não poder saber tudo. Via um Ájax confrontado com uma verdade dolorosa: a de perceber que já não é o seu tempo. Ensinando a todos nós o discernimento que é preciso para reconhecer que tudo na nossa vida tem validade.

Teremos sempre as nossas diferenças culturais, sociais e temperamentais, mas, mesmo dispersa, seremos sempre uma unidade. Nós, enquanto seres humanos. Semelhanças e diferenças quem poderá dizer se boas ou más? Estão em toda a parte e em todos os tempos da nossa singela (ou grandiosa?) existência.

Parece fazer parte da nossa característica cultural, enquanto portugueses, de nos encararmos pequeninos, desorganizados, preguiçosos, aldrabões ou incompetentes. Eu chego a Berlim e vejo alemães com o mesmo sentido de humor, atrapalhados da mesma forma com o caos burocrático indispensável para registar tantos habitantes, tantos contribuintes, tantos estudantes, tantos demais processos. Sou atendida por variadíssimas pessoas, mais ou menos carrancudas, mais ou menos conhecedoras da língua inglesa. Aqui também vejo os percursos das pessoas nos passeios, desviando-se dos mais alcoolicamente perdidos ou espalhafatosos. Apesar da prostituição aqui ser legal, só o é em casas registadas. Mas vejo, igualmente, as prostitutas em certas ruas, onde toda a gente sabe que estão e onde a autoridade não se apresenta.

As cidades e os países não conseguem ser só feitos de terra. É preciso quem a ame, quem a cuide, a estime ou a transforme. É preciso, às vezes, dar passos em falso, recuar, olhar de novo, para uma globalidade. E ter esperança também. Mas acima de tudo, um amor dignificante e uma atitude confiante.

8 comentários:

Carlinha disse...

olá Camila. vim parar ao teu blog pelo link de um blog de uma amiga minha - a Graçinha de Lagos, és capaz de conhecer. E desde que começou tenho adorado :) ler-te remota-me aos tempos em que comecei a vir para esta Alemanha e gosto da sensação! por isso vou continuar a visitar-te e espero continues a escrever. beijinhos e mto sucesso!

Anónimo disse...

Só espero que não cheguemos à fase do comprimido...

Tudo o que se relaciona com o acto de comer, desde plantar, semear, colher,cortar, preparar,cheirar,cozer, assar, saltear... pode ser fonte de prazer. O prazer de ver crescer as árvores, de as encontrar floridas,depois carregadas de frutos: o prazer de ir ao mercado e descobrir os legumes,as hortaliças,as ervas de cheiro;o prazer de pescar (dizem,não conheço) e de sentir o brilho dos peixes; o prazer de pensar em ementas, de descobrir restaurantes, de partilhar refeições com amigos, com a família, em tête-à-tête...

Meu Deus, um comprido, em vez de tudo isso! Isto sim, seria uma verdadeira tragédia!!!!

Aproveita para desbobrir também os alemães através do que comem!

Anónimo disse...

Não sei o que fiz, mas não queria o meu comentário anónimo. O anterior é meu! Sou a tua mãe! Vamos lá a ver se desta vez fica o nome!

Anónimo disse...

A frase "O Homem é todo igual" é muito ambígua. Quando o professor Paulo Alberto se referia às tragédias talvez quisesse dizer que elas representam situações típicas da vida humana tais como a ambição, o ciúme, a luta pelo poder, a inveja, etc. mas cada personagem é uma pessoa única, diferente de cada uma das outras. Portanto cada homem é, em certa medida, diferente dos restantes e, em certa medida, igual ou semelhante aos restantes. São estas semelhanças e diferenças que importa observar sem nos preocuparmos se são boas ou más. Uma semelhança que referes é a presença dos mendigos e seria bom saber como reagem as pessoas e as autoridades à existência dos mendigos e dos sem abrigo. Um diferença é a legalização da prostituição e também seria bom saber o que pensam as pessoas.
Mas já agora tem cuidado com esses ambientes...

June disse...

Ó Manel, então tu não sabes que as meninas desta idade têm o desconfiómetro muito mais calibrado do que os nossos? Sabem sempre que caminho evitar.

Camila, estou a adoraaaaar!!!

Anónimo disse...

Eu também estou a adorar! Ao menos agora podemos ler o que escreves e apreciar o que desenhas, era sempre tudo tão secreto!!!

Vários colegas e amigos me confirmam os teus talentos (não era preciso, eu sei que os tens) e, apesar de não deixarem comentários, apreciaram imenso!

Não sei se já percebeste que não queremos que nos deixes à míngua de impressões, imagens, palavras.Queremos continuar a encontrar-te aqui, encontrar os amigos, os amigos dos amigos, como é o caso da Carlinha!E de outros que surgirão! Parabéns também a ela!

Anónimo disse...

Jamila,

Muito rapidamente, porque estou aqui em Tróia a dar dinheiro ao Tio Belmiro. Só para te dizer que, embora ainda não tenha feito qualquer comentário, tenho estado a acompanhar o teu diário de bordo avidamente, sempre a fazer refresh a ver se existem coisas novas.

Beijos beijinhos e beijirinzinhos
com arroz de tomate e muitos jaquinzinhos

Mariana

Anónimo disse...

Não deu imenso trabalho para fazeres a imagem da barra inicial "lissabon to berlim"?! MANUAL + MAQUINA FOTOGRAFICA = RESULTADOS PERFEITOS; ou a internet tem tudo?

Texto muita nice ;). Toda a escreveeeer! Sabes!

Beijinhos, Júlia